O pesadelo do Vasco
Todo mundo já teve um pesadelo na vida. Eu já tive muitos. Passei a ter menos depois de mais velho. Agora, às vezes, eles vêm quando estou acordado, mas acho que é assim pra todo mundo. A vantagem é que a gente passa a poder enfrentá-los.
Caindo de lugar algum para o nada, num tombo sem fim. Braços, galhos e até elásticos segurando sem deixar movimentar. Acordar, abrir os olhos e não enxergar. Tentar correr e patinar sem sair do lugar… Foram muitos. Acredito que são comuns.
Poucos envolviam uma segunda pessoa. Era sempre eu. Não sei o que significa.
O Vasco, eu acho, sabe.
Durante 90 minutos, assisti aos meus velhos pesadelos, enquanto acompanhava Vasco x Luverdense. Só que acordado. O que eu achava ser algo simbólico, vi que é capaz de ser palpável.
Não pelo show de horrores nos passes errados vascaínos – 69 entre toques curtos e lançamentos. Nem pela cara de frustração dos jogadores em cada erro, como se fossem as últimas jogadas da vida. E correr para recompor, a morte. Mas vi, literalmente, alguns dos sonhos ruins.
Andrezinho corria sem sair do lugar. Parecia jogar de patins em muitos momentos. O time não rendia e Jorginho não via. Quando Jordi defende a primeira cabeçada, Júlio César é seguro pelo próprio ímpeto. Imóvel, vê Alfredo marcar.
O Vasco paralisou. Escorregou. Ficou cego. E está em queda livre.
Pesadelos individualizados de um festival horripilante coletivo. O Vasco é o seu maior pesadelo. Vive nas sombras e ali permanece. Em campo, deixa buracos para a queda, se separa como numa caçada clichê de filme de terror. E morre. Aos poucos.
O Vasco não acorda e o pesadelo continua.
Cada vez mais real.