O nascimento de Paulinho
Poucas coisas são tão bonitas no futebol quanto ver um grande jogador nascer. É o surgimento de um cometa que sonha em ser estrela.
A incerteza que o futebol tem por si só, as mazelas do tempo e das possíveis escolhas erradas, trazem um ar de dúvida, que só o tempo mostra que é certeza. Nem sempre é. Mas só de imaginar que possa ser, torna-se um sentimento gostoso de ter.
É algo semelhante ao sentido em um primeiro encontro, que nem sempre é com o grande amor da sua vida. Mas pode ser. Portanto, no dia, naquele curto momento, é. O resto, a gente torce para que se torne. E fantasia.
Paulinho é diferenciado.
Não apenas pelo drible fácil ou pelo surpreendente poder de finalização aos 17 anos recém-completados, mas pela cabeça erguida, entrega e inteligência em cada leve ajeitada na redonda.
Há ali uma inegável paixão entre o menino e bola, daquelas umbilicais, nascidas ainda no ventre da mãe. Forte, inteligente, incisivo e certeiro, Paulinho parece moldado para o que faz.
Ao receber de Guilherme Costa, o camisa 7 vascaíno nasceu para um mundo novo: o dos carregadores de esperança. O corte no zagueiro e o chute certeiro para marcar o gol da vitória contra o Atlético Mineiro, romperam o cordão umbilical do garoto com a sua juventude.
Já não é mais um garoto entre homens. É um igual.
Fechar os olhos para um menino que voa antes mesmo de poder dirigir é ir contra a lógica. Estes poucos, diferenciados, já nascem habilitados para andar por onde querem.
Com grandes jogadores, ainda que em potencial, não é necessário passar apenas calma, mas também alma. É preciso exaltar seus feitos.
Elogiar não é oba-oba, é forma de reconhecimento. E se tem algo que Paulinho merece neste domingo, são palmas.
Se esta foi sua única noite de craque na carreira – o que eu duvido -, que seja exaltada sem medo, pois foi histórica. Se é apenas a primeira de muitas, que seja degustada sem vergonha.
De uma forma ou de outra, é o seu domingo. Uma data para ser lembrada por ele como um aniversário.
Paulinho tem algo de especial. É desse tipo raro de jogador, que encanta no primeiro toque na bola.
É um belo faixo de luz que surge no céu e você anseia para que ele permaneça ali, brilhante.
O primeiro brilho já foi visto.
Que sorte a nossa.