O drible de PV, o gol de Nenê e o 0 a 0 que balançou as redes
Vasco e Botafogo fizeram uma espécie de 0 a 0 com gol.
Poucas chances, tudo muito bem definido – estratégias e táticas – e uma partida morna. Não necessariamente ruim, mas de pouca paixão. Todos os traços de um típico e modorrento empate sem gols. Era, por assim dizer, um jogo de compadres, fazendo jus ao apelido de Clássico da Amizade.
Até o gol.
Ele, e só ele, é capaz de transformar jogos e gerar sentimentos onde até então não se tira um suspiro.
Corrigindo: ele e o drible. A finta é a única jogada eternizada, reprisada em profusão, além do tento. É parte imortalizada do espetáculo. É o pequeno frame de segundo que dá beleza aos 90 minutos.
Assim como o gol, ele é eterno. Todo o resto, apesar de importante pra quem joga, treina e analisa, é secundário no imaginário e na memória de quem torce. Esse, o torcedor, aguarda o brilho individual, a faísca de magia.
E se não fossem esses dois fragmentos, o duelo entre Vasco e Botafogo deste sábado talvez fosse esquecido antes mesmo do apito final. O gol de Nenê e a lambreta de Paulo Vítor mudaram esse panorama.
O cartaz pendurado por um torcedor atrás do gol à direita das cabines de televisão trazia um misto de profecia e esperança: ‘Nenê é sinistro. Nenê é o cara’. Nem sempre é, mas quase sempre tenta ser. Às vezes até demais.
Entre toques de letra e jogadas forçadas, o apoiador errou 11 passes no clássico, contados minuciosamente pelo pessoal do Footstats. Onze toques que irritaram o torcedor, mas que se tornaram irrelevantes após o chute que bateu Gatito Fernandez e decretou o triunfo vascaíno por 1 a 0, no Maracanã.
Nenê já não tem a precisão, ou a constância, de outrora, mas ainda consegue ser decisivo em apenas uma bola. E é exatamente por não se esconder, que erra e decide em grande volume. O que dá margem aos seus críticos e também aos seus admiradores.
A torcida cruzmaltina, que por meses namorou o time à distância, enfim pode gritar gol dentro de um estádio carioca novamente. Sem delay, só deleite.
A partir daí, iniciou-se a desamizade entre Vasco e Botafogo no gramado.
O que fez Paulo Vítor com Arnaldo não é coisa de amigo. Mas também não é ilegal. Muito menos imoral.
Ora, um jogador que entra em campo sem a convicção de que poderá receber um drible desconcertante nada mais é que um soldado em guerra espantado por sofrer um tiro.
Falta de respeito é dominar a bola com a canela. Driblar é arte. E sem nudez, apesar de muitas vezes ser pornográfico.
Quem foi o melhor jogador do Vasco na vitória sobre o Botafogo?
— Garone (@BlogDoGarone) 15 de outubro de 2017