A impetuosidade de Cano
Germán Cano está para o gol assim como a Cruz de Malta está para o Vasco. São sinônimos.
Muito se fala sobre a capacidade de finalização do argentino, com justiça, mas pouco é dito sobre a sua movimentação. Cano ataca os espaços com a mesma fúria e precisão com que ataca as redes. Ou até maior.
Comecei a esboçar esse texto mentalmente após o 2 a 0 sobre o Sport, na Ilha do Retiro, quando o camisa 14 marcou os dois tentos do duelo. O primeiro, esperando até o último instante pelo passe de Leo Gil antes de definir qual direção tomaria. Antecipou a marcação e fez. No segundo, brigou desde a entrada da área por cada milímetro de espaço dentro dela, e o encontrou às costas do zagueiro. Sempre de maneira impetuosa, sem hesitar.
Cano não é apenas um bom finalizador, mas sim um artilheiro agressivo em cada movimento. Procure o último homem da defesa adversária e lá estará o matador ao seu lado, como um cão que cerca o dono, esperando apenas o portão abrir pra sair correndo por entre suas pernas para ir à rua fazer festa.
Cano não é marcado pelos zagueiros, é o oposto: é ele quem marca cada movimento do defensor para atacá-lo no momento certo. E assim fez, mais uma vez, contra o São Paulo.
Entre o roubo de bola de Miranda e o primeiro movimento em direção ao gol tricolor, passaram-se menos de dois segundos. Numa pequena fração de tempo, Cano deixou de ser um centroavante que caminhava despretensiosamente pelo círculo central, de costas para o campo de ataque, e passou a ser um atacante vertical que corre livre em direção às redes. Imparável.
Numa hora, Cano era a caça. Pouco tempo depois, o caçador. Uma chave que o argentino vira como poucos, mais rápido que um grito de gol.